O Pequeno Tzu

Tuesday, June 03, 2008
Jie e a morte
O dia tinha sido sido cansativo, Jie tinha brincado desde o nascer do dia com os ursos da montanha e chegou a uma pequena povoação cansado.
Ao passar pela rua principal, praticamente deserta, Jie é derrubado por carpinteiro que corria apressado:
"Desculpa meu jovem, mas estou atrasado"
- O que se passa? Onde está toda a gente?"
"Estão todos no funeral. O sábio da vila morreu ontem, com 150 anos, e todos quiseram ir festejar a sua herança, bebendo e recordando ao pé dele a iluminação que nos trouxe durante gerações".

Jie decidiu seguir o apressado senhor.

Ao fundo começou a ver uma multidão barulhenta. Pensou na grandeza que devia ter tido aquele homem, para reunir toda a vila a falar dos seus ensinamentos, a contar as suas lições, a dar exemplos de como ele contribui para a sua felicidade.

"Foi pena teres chegado um dia atrasado?"-disse um velha senhora,"perdeste a oportunidade de conhecer um homem extraordinário.
- Mas estou a conhecê-lo, ele neste momento está em centenas de pessoas. Cheguei no momento certo.

Jie circulou durante horas pelo meio do habitantes, ouvindo as memórias do velho sábio pela voz de quem o viveu. Nessa altura pensou: como é que, um só, se multiplicou por tantos?

A certa altura reparou que ao longe, sentada num ramo de oliveira estava uma menina de negro. Era a única pessoa que chorava.
Ao dirigir-se a ela foi sentido frio, cada vez mais frio.

-Olá. Porque choras?
"Olá Jie. Choro porque nunca mais vou conseguir ouvi-lo. Adiei a sua partida anos e anos para o conseguir ouvir todos os dias a esta hora. Mas ele ontem desistiu, disse-me nos olhos que não era meu, e que queria partir".
-Mas Morte, se ele partiu, não deveria estar contigo? Na tua casa?
"Não, pequeno tzu, os espíritos livres não entram em minha casa. Vês este pequeno pássaro acabado de nascer?"
-Vejo.
"É ele Jie. É ele pronto a viver de novo".
-Eu sei. Ele disse-me.
"Consegues ouvi-lo?? consegues ouvir o que ele diz?"
-Consigo, Morte, o espíritos livres entram directos na minha casa, o meu coração.
"Como ele canta bem. O que é que ele está a dizer?"
-Não está a dizer, está a cantar. Aceitas uma dança?
posted by CdaPluma @ 7:28 PM   2 comments
Wednesday, May 30, 2007
Jie e o pequeno príncipe
Ele desceu a rua num tumulto.
A saudade, a necessidade e possibilidade de falhar minavam a sua paz.
Cruzou-se comigo a chorar, engolindo as lágrimas com sede, não para disfarçar a dor, mas unicamente para engolir a tristeza.
"Que se passa?"-perguntei-lhe
"Tudo passa e nada fica. Sons e pensamentos, clarividência e desespero, todos eles passam por mim, todos eles aumentam a minha dor".
"E para onde vais? sabes para onde vais"
"Não, não sei, esse é o meu problema... tudo passa por mim e não sei para onde vou. por isso tenho esta dor".
"Então alegra-te, pequeno príncipe, pois quem não sabe para onde vai, nunca estará perdido".
posted by CdaPluma @ 11:36 PM   1 comments
Wednesday, May 09, 2007
O doce sabor da realidade
Ele perdeu o emprego, embora não saiba muito bem onde... acha que o deixou abandonado à sorte de quem vier.
Chegou a casa, mas a casa deixou-o. Fartou-se de ser maltratada, fez as malas e foi embora.
Decidiu beber um copo, mas esqueceu-se de aprender a contar naquele dia, e ao décimo ficou de barriga cheia sem se mexer.
Foi lavar pratos até descobrir que era mais giro saltar.
Voltou para rua mas ela estava cheia, decidiu voltar a entrar.
Subiu pelas escadas até chegar ao terraço para correr no parapeito com um gato, e lembrou-se que se calhar não era um gato
Mas caiu de pé, como sempre, ao lado de um prato com leite.
Decidiu lavar esse prato com a língua... e parou um pouco para pensar.
Chegou, atrasado, à conclusão: "Afinal sou um gato".
posted by CdaPluma @ 10:47 PM   2 comments
Sunday, January 21, 2007
ouvindo as nuvens
"Ouvindo as nuvens" foi um dos primeiros textos escritos pelo filósofo-criança Jie-tzu nos seus primeiros anos de meditação. Diz a lenda que, quando se sentia só, a natureza vinha falar com ele revelando-lhe segredos. Cada momento de solidão um segredo...

"Quinze dias depois dela cheguei ao cimo da mais alta torre. Estava com sede e deitei-me de costas à espera que chovesse. fiquei assim até adormecer...

-olá estranho. desculpa acordar-te..
-humm.. não tenho a certeza de ter acordado, pequena nuvem... mas consigo ouvir-te. Podes refrescar-me a garganta? estou cheio de sede.
-Posso Jie, se me deixares fazer o que mais gosto. Se me deixares cantar enquanto chovo.
-Claro que podes, e se quiseres dança... adoro ver dançar.

com uma gota tudo começa
com uma gota a pingar
tem a força de um oceano
e tem um nome: cativar

E cativar não vem só
vem com as suas quatro irmãs
entrega, receio e
sedução,
e a mais forte delas
a gota paixão.

sem avisar vem o vento
que tudo levanta do solo
tudo faz voar
esse vento tem 2 nomes
amar e ... amar

e tudo faz voar
o vento que tem dois nomes
amar e ... e amar

Já chove sem parar
milhares de gotas a molhar
tudo boia sem rumo
sem medo de afundar

e tudo faz voar
o vento que tem dois nomes
amar e ... e amar"

Não sei durante quanto tempo dormi...
sei que estava só quando acordei.
E o sol brilhava, e eu não gostei do sol...
sol, o inimigo da minha nuvem,
inimigo do meu vento.

Deixei de lhe chamar sol,
passei a chamar-lhe razão.

já agora.... acordei sem sede."

by cdapluma

posted by CdaPluma @ 10:46 PM   0 comments
Friday, December 15, 2006
"O essencial é invisível aos olhos" Saint-Exupéry
posted by CdaPluma @ 10:41 AM   1 comments
Wednesday, November 22, 2006
Bondade é dor, Felicidade é dar


-Eu tenho uma pergunta para ti?
-Diz...
-Qual a única coisa no mundo que brilha mais que um diamante?
-...
-Não sabes?
-...
-Eu digo-te. Os olhos de quem...
-O RECEBE!
-Não. Os olhos de quem o dá!
-...
-...
-Tens razão, reflecte bondade.
-Não, Bondade não. Bondade é, frequentemente, dar porque sentimos que isso nos faz bem, porque necessitamos de nos sentir melhor. Bondade é muitas vezes sinónimo de dor interior, de querermos apaziguar essa dor. Um sentidor não dá por bondade, dá por felicidade.

"Conversas de Jie"

cdapluma

pic por snape71

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posted by CdaPluma @ 9:11 PM   0 comments
Jie e a paixão da lua

Após um longo caminho, e já de noite, Jie decidiu deitar-se no meio da relva. Nessa altura reparou na Lua, bem alta e cheia. Ficou várias horas a olhar para ela até que decidiu murmurar "Olá Lua".

"Olá Jie", respondeu a Lua
"Obrigado por me fazeres companhia"
"eu vou acompanhar-te sempre, Jie, no longo percurso que tens para fazer. Já sabes o que procuras?"
"Procuro procurar, Lua. E procuro um dia encontrar a metade da minha esfera"
"Sabes Jie, eu sei exactamente onde tu irás encontrar a metade da tua esfera"
"Podes dizer-me?"
"Posso, deverás seguir para oeste, e um dia, sempre caminhando para oeste, irás voltar a este campo, e aqui encontrarás a tua metade".
"Então porque não ficar aqui, à espera dela?"
"Porque se ficares aqui, se não percorreres o teu percurso, então, quando ela chegar, não será a tua metade, porque não serás tu aqui, será alguém como tu, mas não o Jie."

Jie, pensou um pouco, concordou com a Lua e mudou de assunto:

" E tu Lua, quem amas?"
"Amo a água Jie, amo com todas as minhas forças. É à volta dela que giro, é por ela que apareço todos os dias. E ela todos os dias tenta subir até mim. Mas não consegue, Jie, ela não consegue. Todos os dias tenta e todos os dias cai".

Nesse momento choveu e Jie reparou que a Lua brilhou de forma especial.

Cdapluma

pic Sor4

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posted by CdaPluma @ 9:09 PM   0 comments
Wednesday, November 15, 2006
Jie-Tzu
Um mestre chamado Shan Tzu tinha três discípulos. Os jovens aprendizes tinham sido acolhidos pelo mestre no mesmo ano e tinham feito todo o caminho juntos ao longo dos anos.
Certo ao dia, antes do pôr do sol, Shan Tzu convoca os seus discípulos e comunica-lhes:
"Ao fim destes anos chegou o momento em que terei de avaliar a vossa sintonia com o tao, qual o caminho que cada deverá seguir. Irei falar individualmente com cada um de vós e depois devereis realizar uma tarefa".

Chama o primeiro discípulo e longe dos restantes faz-lhe 2 perguntas:

-O que é para ti o tao?
-Se eu definir o tao, então não estou a falar do tao - responde o primeiro discípulo.

-O que tem quatro paredes e um tecto?
-Uma casa - respondeu prontamente

Procura então dentro da tua casa o tesouro que deixei para ti.

Chama o segundo discípulo, e faz as mesmas três perguntas, tendo exactamente as mesmas respostas e pede-lhe a mesma tarefa. Por último chama o terceiro discípulo e tudo se repete.

O primeiro discípulo rapidamente se dirige para o quarto onde dorme e revira-o completamente. Após um longa procura encontra uma pedra de jade.

O segundo pensa um pouco e decide que a sua casa, sendo ele um homem devoto, é o templo e dirige-se para lá. Lá dentro, após um calmo período de procura, encontra um manuscrito antigo.

O terceiro díscipulo demorou mais tempo a pensar e chegou à conclusão que o único lugar em que sentia em casa era um pequeno planalto do outro lado do rio. Abriu os portões e saiu.
Passou pelo jardim e parou, ficando um longo tempo a observar os pássaros. No rio mergulhou, e chegando ao planalto conversou durante largo tempo com um búfalo. Ao fim do dia estava cansado e sem querer adormeceu.

No dia seguinte ao nascer do sol os três discípulos foram ter com o mestre.
- Aqui está o tesouro que encontrei, uma lindissima pedra de jade- Diz o primeiro.
- Aqui está o meu, que descobri no templo, um manuscrito com as palavras de Lao Tzu.

Shan-Tzu vira-se para o terceiro, e pergunta: " E tu, encontraste o tesouro?"
-Não, as únicas coisas que trouxe são um pena que um pássaro deixou cair, um seixo que apanhei no fundo do rio, e a minha roupa cheia de pelos do búfalo que se deitou em cima de mim.

Shan-tzu, dirigiu-se então aos três e disse-lhes:
-A todos vós ensinei o mesmo, a todos vós fiz as mesmas perguntas, todos vós deram-me as mesmas respostas. No entanto seguiram todos caminhos diferentes, porque mais importante do que o que dizem, mais importante do que o que aprendem é a forma como ouvem, é isso que vos torna especiais.

Olhando para o primeiro, o mestre disse:
- O tao flui em ti, não precisas de pensar muito, encontraste na tua casa o teu equilibrio, serás muito útil aqui ao meu lado.
Ao segundo diz:
- Tu és um estudioso, meditar é o teu rumo, poderás um dia ajudar-me a explicar a importância do estudo e da meditação.
Por fim ao terceiro disse:
-Tu escolheste o teu caminho, e deverás sair daqui imediatamente. O mundo é a tua casa e a natureza a tua amante. Aguardo com impaciência o dia em que voltes e me aceites como teu discípulo.

E o jovem aprendiz sai para tornar-se no homem conhecido por Jie-Tzu.

Cdapluma

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posted by CdaPluma @ 9:20 PM   2 comments

"Nothing is as real as a dream. The world can change around you, but your dream will not. Responsibilities need not erase it. Duties need not obscure it. Because the dream is within you, no one can take it away."

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